Achados no fundo do mar 🇹🇷

Dias atrás estávamos levantando âncora, na baía em frente à cidade de Marmaris, e ouvi o Renato lá fora tendo que forçar o guincho repetidas vezes. Sai para ver o que estava acontecendo e ele disse: – Você não vai acreditar no que “fisgamos” com nossa corrente! Olhei e vi nossa corrente subindo uma enorme âncora de almirantado, daquelas que eram muito usadas antigamente em grandes embarcações. Devia ter entre 75 a 100 Kilos.

Impossível saber há quanto tempo ela estava ali, afundada, deteriorando no fundo da baía e mais instigante ainda saber quando ela foi usada, se foi perdida, se a embarcação foi naufragada numa das inúmeras guerras e conflitos, que também ao longo da história sempre estiveram presentes nesta região.

O Renato então avaliou a situação de como nos desvencilharmos dela, porém, de forma que fosse possível tirá-la desta área, que tecnicamente, é a área de ancoragem.

Com a ajuda do Andy, do veleiro Tartuga, que segurou o bote na posição necessária, o Renato envolveu a âncora com um cabo preso no cunho do convés e aos poucos eu fui acionando o guincho para a subida da corrente até que o cabo passou a ser a sustentação da âncora, e assim o Renato conseguiu ir retirando a corrente do entorno da velha âncora. Pois bem, agora ela estava pendurada com um cabo na proa, ufa!

A opção mais segura que o Renato avaliou foi jogá-la de volta ao fundo do mar, não tínhamos como levá-la em terra e assim navegamos uma milha além da área de ancoragem, isto para evitar que outro barco viesse a fisga-la novamente, fomos bem devagar, 2 knots, e chegando lá, devolvemos ao mar o que ele havia nos trazido e nos colocamos a pensar no número sem fim de coisas submersas neste mar.

A região onde é hoje a Turquia tem uma especial particularidade, a de que seu território foi habitado ininterruptamente por quase sempre, desde os primórdios da humanidade.

Muitas e muitas sangrentas batalhas aconteceram por aqui e os ataques às cidades da Costa geralmente chegavam de navios que por vezes eram afundados, naufragados é isso tudo jaz em algum lugar no fundo do mar.
Já tivemos a oportunidade de ver ruínas e remanescentes de muitas civilizações que passaram por aqui, muita coisa foi perdida mas ainda há muito o que se ver, quer nos inúmeros museus ou mesmo a céu aberto, nos centros das cidades ou em ruínas espalhadas pelas montanhas íngremes daqui.

Há também uma imensa quantidade de cidades e vilas submersas em decorrência de terremotos causados pela movimentação das placas tectônicas que acabaram por alterar o nível do mar ficando algumas cidades suscetíveis a inundação. Quando estivemos em Kekova, visitamos a cidade afundada onde é possível ver as fundações e à disposição das construções da época.

Aliás a Turquia e também a Grécia continuam a descobrir artefatos e às vezes vilas inteiras que ainda estavam guardando seus segredos, que agora passam a ser compartilhados nos inúmeros museus abertos à visitação.

Namastê 🙏🏻🇹🇷

10 de janeiro de 2023. Morando a bordo do veleiro SV Pharea em Marmaris, Turquia. 🇹🇷

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Nossos planos para 2023 🎯

2022 foi nosso ano na Turquia. Chegamos aqui em setembro 2021 para passar o inverno mas acabamos ficando e agora passaremos o inverno de 2023 também e sairemos em meados de maio rumo a Marrocos.

Nesse caminho velejaremos pela Grécia, Itália, França, Espanha e por fim chegaremos a Marrocos, estando pertinho de Portugal, que queremos muito conhecer. São muitos lugares para explorar e sentir um pouco da essência de cada um deles.

2023 promete ser um ano movimentado e com muita água passando pela quilha da Pharea.

Para ter sempre em mente que a vida é breve e que devemos aproveitá-la, segue a letra de uma música que acho linda na voz da Mercedes Sosa.

El Tiempo Pasa

El tiempo pasa y se nos va la vida

y lo que pasa ya no vuelve más

hay que seguir mirando hacia adelante

nunca hay que quedarse a mirar atrás

El tiempo pasa y se nos va la vida

hay que vivirla con felicidad

hay que alejar todas las amarguras que la vida es una y pronto se nos va

Hay que se va, que se va va la vida

hay que se va, que se va el amor

hay que se va, que se va todo…

Que lo es natural

las tristezas y las penas nunca fueron buenas hacen mucho mal

El tiempo pasa y se nos va la vida

y lo que pasa ya no vuelve más

hay que seguir mirando hacia adelante

nunca hay que quedarse a mirar atrás

El tiempo pasa y se nos va la vida

hay que vivirla con felicidad

hay que alejar todas las amarguras que la vida es una y pronto se nos va

Hay que se va, que se va que se va la vida

hay que se va, que se va que se va el amor

hay que se va, que se va…

todo es natural

Namastê 🙏🏻🇹🇷

02 de janeiro de 2023. Morando a bordo do veleiro SV Pharea em Marmaris, Turquia. 🇹🇷

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Mais um Natal 🌲 na Turquia 🇹🇷

A vida a bordo traz uma calmaria, talvez pela falta de ansiedade vivida antes, quando natal era sinônimo de correria, de muitas compras, de muitos afazeres para que enfim tudo fosse perfeito.

Agora a vida passa mais lentamente e sem picos de grande ansiedade. Nossa rotina acontece no barco, que é a nossa casa, e além disso usamos nosso tempo para caminhar, conhecer os lugares ao redor de onde estamos ancorados e “viver” dentro do viés cultural de onde nos encontramos.

Diferentemente do último dezembro, em 2021, que estávamos em apenas três veleiros ancorados em frente à cidade de Marmaris, neste ano tem quase vinte embarcações ancoradas aqui. Muitos barcos com russos a bordo e também canadenses, ingleses, ucranianos, siberianos e outras nacionalidades.

Geralmente nos cumprimentamos no pier, onde deixamos o bote quando vamos para a cidade.

Neste ano a temperatura está bem melhor que o ano passado quando estávamos com 6 graus celsius e agora estamos com 14 graus, bem mais quente e estamos tendo umas duas semanas sem chuva, ou seja, dá para sair todos os dias para caminhar, uma maravilha.

A cidade está enfeitada com luzes nas ruas principais e nas lojas encontramos alguns enfeites de natal, porém nada exagerado pois estamos num país de maioria muçulmana e assim a comemoração que haverá aqui é somente a de ano novo. Procurei muito um panetone para comprar mas não encontrei, mas não desisti, farei meu próprio panetone, vamos ver se vai dar certo?!Nós celebramos o natal no barco e convidamos os amigos do veleiro Tartuga, a Karina e o Andy, para cear conosco.

Arrumamos a mesa com motivos natalinos, instalamos algumas lâmpadas coloridas, preparamos a ceia no forno garantindo assim que o barco ficasse aquecido e confortável.

Nos recordamos dos natais anteriores, o primeiro fora do Brasil foi na Itália, em 2018, em Rochella Iônica, foi uma festa linda com o salão decorado, mesa arrumada “à italiana”, música ao vivo com alguns velejadores, com direito a dança e muitos drinques.

No seguinte, em 2019, estávamos na África, havíamos tido um ano difícil com a perda da mãe do Renato e não saímos para comemorar o natal. Em 2020 continuávamos em Monastir e celebramos com amigos do ❤️ no barco da Caroline e do Dany, amigos canadenses e na companhia da Karina e do Andy também. O Dany preparou uma torta recheada com carne realmente deliciosa, típica da região onde nasceu no Canadá e que espero que quando nos encontrarmos novamente ele repita a receita!

Em 2021 já na Turquia, nos reunimos com os amigos no catamarã da Shannon e Tony, casal de americanos que conhecemos em Monastir, também estavam outros amigos do Red Roo e do Caffe Latte e tivemos um agradável jantar celebrando com os amigos.

E agora a pergunta que fiz ao Renato: – onde estaremos no próximo natal? – Não sei, me respondeu, – mas acho que em algum lugar do Mediterrâneo em direção a Gibraltar ⛵🌎💞🐾.É, já estamos por aqui há alguns anos e no próximo vamos aproar rumo à Gibraltar e conhecer lugares incríveis pelo caminho!

Neste mês comemoramos também o aniversário da Bella, nossa marinheirinha mascote, ela completou oito anos e está uma fofura, ela é muito querida e às vezes até fala com a gente 😄😄😄 verdade!!!

E agora, semana de fim de ano, muito a agradecer pelos lugares que conhecemos, pelas pessoas que encontramos, pelas visitas que recebemos e por estarmos bem, no nosso ritmo, levando a vida como optamos levar. Namastê!

25 de dezembro de 2022. Morando a bordo do veleiro Pharea, na Turquia 🇹🇷.

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Na ilha dos coelhos, Turquia 🇹🇷

Chegamos em Bozburun após 5 horas velejando e encontramos uma pequena e charmosa cidade litorânea, banhada pelo mar Egeu, no sudoeste da Turquia, com população permanente de cerca de 2.000 habitantes e que no verão recebe uma grande quantidade de turistas em busca dos passeios de Goulet. No pier da cidade há muitas destas embarcações, uma construção típica em madeira que também é encontrada em Bodrum, local que demos entrada na Turquia em 2021.
Desde o século passado, após registros de historiadores a região é procurada para as chamadas “Blue Trips” termo cunhado pelos escritores do século passado, se referindo aos passeios proporcionados pelas lindas Goulets, tradicionais escunas de dois mastros, que se deslocam mostrando as belezas naturais das enseadas, formadas pelas elevadas montanhas e as água claras de cor turquesa.
Além do turismo os habitantes daqui subsistem com a pesca e a apicultura, que se destaca pelo mel produzido com a florada de tomilho, que é abundante nas montanhas áridas daqui. Neste tempo por aqui não precisamos comprar tomilho, pois sempre apanhamos durante nossas caminhadas e tem um sabor incrível.
Aqui estamos bem próximos de uma das ilhas gregas, a ilha de Symi, que pode ser visitada via ferry boat saindo das ilhas turcas. Mesmo estando a tão poucas milhas de Symi, não podemos ir lá com nosso veleiro, pois não temos permissão de sair com nosso barco do país sem fazer todos  os trâmites legais antes.
A pequena cidade tem uma Mesquita central e uma rua que contorna a beira-mar, às vezes com uma pequena calçada e às vezes mais estreita fazendo com que pedestres e motoristas estejam atentos para evitar acidentes. Há também um longo pier que abriga as inúmeras Goulets e o mais interessante são as trilhas nas montanhas que nos fazem chegar a diferentes lugares nos proporcionando vistas incríveis.

Saímos  para uma trilha com os amigos do Tartuga e do Osprey e nos encantamos com as belezas naturais pelo caminho. Passamos dias super agradáveis andando pela cidade, nos reunindo para um churrasco no Osprey e aqui no Pharea os recebemos para o almoço e preparamos um kibe  de beringela acompanhado de salada de batatas com ovos cozidos.
Aqui nos encontramos novamente com a Joana e o Marcel, do veleiro Chulugi e a Joana nos deu a dica de visitarmos uma ilha, na entrada da baía, onde há coelhos selvagens. Fomos conferir e nos encantamos com tantos coelhos, de repente ao nos aproximarmos da ilha vimos um, depois outro, depois outro e assim dezenas deles chegaram quando atracamos o bote e felizmente a Karina havia levado alface e cenouras e distribuímos para eles…
Foi emocionante . Depois atravessamos para outra ilha que tinha um bom lugar para um piquenique e  assim estendemos as toalhas e fizemos um perfeito piquenique.
No dia seguinte a  Karina, do Veleiro Tartuga convidou a mim e a Sevgi, do veleiro Osprey, para retornarmos a ilha no dia seguinte para levar mais comida aos coelhos. E  assim, passamos no mercado antes de ir, pegamos cenouras, repolho, pepinos, alface e maçãs e fomos para a ilha com a Karina e novamente os coelhos começaram a aparecer logo que atracamos o bote. Distribuímos muita comida a eles, que vinham comer na mão e depois que se satisfizeram começaram a se distanciar e neste momento havia ainda muitas cenouras espalhadas pelo chão e chegaram as cabras, que também são criadas lá soltas e que alguém traz ração e água para elas…
E começaram a comer as cenouras e os outros vegetais que os coelhos deixaram… Bem mansas, podíamos chegar bem perto e passar a mão… Isso não tem preço, foi adorável.
Bem depois de tantas coisas boas e positivas encontradas aqui, fiquei triste quando o Renato falou que iríamos trocar de ancoragem em função da mudança da direção do vento… Por mim ficaria aqui por muito tempo, realmente amei este lugar… Super especial, me fez sentir muito próximo da natureza, da nossa essência. Só a agradecer! Namastê!
15 de novembro de 2022. Morando a bordo do Veleiro Pharea, na Turquia 🇹🇷.
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Novos lugares pra lá de especiais!

As estações do ano aqui na Turquia são bem definidas. Dia 20 de setembro, um dia antes da primavera sentimos que o verão chegava ao fim, o vento norte chegou frio, trazendo o ar gelado das montanhas. Acabou o período seco, desde abril não chovia aqui na região mais ao sul do país. Os dias já estão mais curtos e frios pela manhã e a noite e já anuncia que mais um mês e o inverno chega por aqui.
Decidimos conhecer algumas ancoragens enquanto as condições de tempo ainda permitem e levantamos âncora de Marmaris e velejamos para Ciflik, junto com os amigos do veleiro Tartuga, Osprey (veleiro em que o Renato participou da regata) e o Belvedere, de um casal de ingleses.
Jogamos ancora em frente à praia da pequena vila, água transparente, podíamos ver o fundo do mar olhando do convés. Descemos para caminhar com a Bella e no passeio o Renato quase pisou numa cobra que estava no caminho, ela se assustou e deu o bote mas o Renato tirou a perna e felizmente a Bella estava no meu colo. Seguimos caminhando mais atentos, lembrei que a Joana, do veleiro Chulugi (barco em que o Renato cruzou o Atlântico, do Rio de Janeiro a Cape Town) havia nos alertado para ter cuidado com as cobras por aqui.
A vila é composta por algumas casas de veraneio, dois restaurantes com mercadinho e um Pier onde estão atracados alguns veleiros, possivelmente de empresa de charter.
A baía é linda, a água muito limpa e com certeza no verão deve ser bastante frequentada, saímos para uma volta de dingue e depois nos encontramos com os amigos para uma uma cerveja num dos bares em frente à praia.
Na previsão do tempo havia mudança de vento e precisamos seguir em busca de uma ancoragem mais segura para o vento nordeste. Velejamos rumo à Dirsek, onde a transparência da água nos surpreendeu ainda mais. Ancoramos e podíamos ver o fundo do mar há quinze metros de profundidade, até que vimos que nossa corrente estava enrolada em um rocha e precisamos reancorar. O Renato mergulhou para avaliar (a água já está fria agora) e depois o Andy, do Tartuga, mergulhou também para procurar outro spot para jogar a âncora pois aqui, há lajes e muitas rochas se mesclando com a areia do fundo. É uma boa ancoragem mas tem que jogar a âncora no lugar certo!
Ao fundo da baía há um restaurante mais seletivo, com preços mais caros, já havíamos visto comentários a respeito e assim nem fomos em terra conferir. No fim do dia fomos para um happy hour no veleiro Tartuga e curtimos a companhia dos amigos entre drinks e jogo de cartas.
No dia seguinte, final do dia o vento chegou, com ele veio a chuva forte e granizo. O Renato estava acompanhando a movimentação da chuva no aplicativo e ela estava sobre uma área enorme e vinha da direção de Creta, Rhodes, pegando uma grande porção da Grécia antes de chegar por aqui. As rajadas chegaram perto de 80 quilômetros por hora e o vento só acalmou perto do amanhecer.
Em dias assim, o Renato coloca sua roupa de tempo e fica acompanhando a movimentação do barco. Eu fico dentro com a Bella, que às vezes se assusta com o barulho da tempestade. Mas nada como um dia atrás do outro…  Na manhã seguinte o tempo estava bom, saímos com o dingue do Tartuga para passear na baía e fizemos planos para mudar de ancoragem.

Esta liberdade que temos de mudar de lugar em lugar é muito boa, podemos só experimentar um lugar ou podemos nos demorar para curtir as coisas boas que o lugar oferece, temos nossa casa com a gente, os amigos por perto e muitos novos lugares para descobrir e assim lá vamos nós em busca de uma nova ancoragem.

Namastê 🙏🏻🇹🇷

10 de  Novembro  de 2022. Morando a bordo do veleiro SV Pharea na Turquia  🇹🇷

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