Muitas coisas diferentes e curiosas aqui, um outro arranjo de cidade, muitas mesquitas, nada de igrejas católicas, já que estamos num país onde 99 por cento são muçulmanos. Quero falar das Medinas, as antigas cidades criadas a partir do século VII pelos árabes. Elas estão presentes em muitas cidades da Tunísia 🇹🇳 e correspondem às áreas onde estavam localizadas as cidades antigas, o perímetro é todo murado e tem vários e grandes portões de entrada.
A Medina tem vida própria com todo o tipo de comércio, formal e informal, é também centro financeiro, muitas pessoas moram em seu interior, tem opções de hospedagem tipo Airbnb, muitos cafés, sendo a grande maioria frequentado somente por homens e também tem restaurantes que servem
“plate d’Jour” e li que em algumas Medinas não é permitida a entrada de veículos. Não raro pôde-se olhar para uma das pequenas portas e ver a fabricação de biscoitos, a moagem de nozes, pistaches e também ver o trabalho de um tecelão, tecendo como há séculos atrás….
Produzindo pashiminas, cobertores, mantas e até tapetes.
Na Medina de Monastir, onde estamos, o vai e vem é constantes e é possível perder-se entre as ruelas estreitas e as pequenas lojas que vendem artesanato, especiarias, verduras e legumes e há também supermercado, do tipo que conhecemos e um grande mercado com peixes, camarões, lulas, polvos e muito atum fresco a um preço acessível. Aqui o consumo é grande de peixes e frutos do mar, carne de ovelha, de onde tiram a lã para o tear e carne vermelha, esta última com consumo mais restrito devido ao preço ser mais elevado. Apreciam também a carne de camelo e de cavalo e é claro, porco nem pensar.
No caminho dentro da Medina passamos por homens que usam uma longa túnica branca e turbante na cabeça, outros com uma grande capa que vai até os pés e com capuz, chamada de Abaia, outros com um pequeno chapéu de cor bordo, chamado de Tarbush e outros homens vestidos à moda ocidental.
As mulheres usam muito tecido. Longos vestidos, chamados de hajam, véus cobrindo a cabeça e mais um manto sobre o corpo e as senhoras de idade são bem tradicionais.
As mais jovens usam maquiagem e lenço na cabeça combinando com a saia longa ou com a calça jeans.
Fomos orientados que nas compras na Medina deve-se negociar e conceder este prazer ao vendedor, que espera por isso. Às vezes pode-se oferecer 50% do valor e aí vai subindo conforme a negociação até atingir um valor justo para as partes. O Renato já negociou um bela tábua de carne feita de Oliveira e um tapete e teve sucesso.
Próximo da Medina existem
outras construções antigas com significado cultural e a cidade moderna se espalha a partir dela.
A limpeza nas Medinas é algo que deixa a desejar, as pessoas aqui ainda jogam seu lixo no chão e cada vez mais eu penso que o plástico precisa ter um substituto….Outro hábito que nos causa uma má impressão é o fato da pouca higiene. No comércio, por exemplo, os pães são distribuídos em vários postinhos de venda e colocados em cestos. A pessoa vai escolher um e aperta vários antes de escolher o seu. Já vi também um senhor que pegou o pão e colocou o dinheiro em cima… Fui comprar cravo-da-índia e o vendedor colocou a mão no pote e foi pegando a quantidade que eu queria… Já na Itália aconteceu algo contrário, fui pegar legumes com a mão e fui alertada que deveria colocar uma luva descartável, disponibilizada pelo mercado, se quisesse eu mesma pegar os legumes… Diferenças culturais.
Num passeio pelas ruelas estreitas e cheias de portinhas dá para gastar um bom tempo apreciando o movimento, imaginando a engrenagem dessas antigas cidades muradas e também se maravilhar com as portas trabalhadas, que chamam a atenção de quem passa por elas e voltar par casa com um fecho de tâmaras, uma das saborosas e comuns especiarias daqui! Namastê 🇹🇳
Dia 1260, dia 02 de dezembro de 2019. Morando a bordo, inverno no norte da África, Monastir, Tunísia